Slow – lento ou consciente?

June 18, 2024

Nos últimos tempos, e de forma quase aleatória e inconsciente, tenho ido ao encontro do movimento SLOW, mas na sua vertente de negócios, Slow business e Slow marketing e isso fez-me recordar dois textos que publiquei em 2017 e 2020 sobre Slow design: SLOW Design – como fazer parte do movimento e SLOW, para design de interiores mais sustentáveis. É inevitável associarmos SLOW à sua tradução literal, devagar, abrandar ou lento, mas a verdade é que é muito mais do que isso.

O movimento SLOW surgiu em Itália, em 1986, quando Carlo Petrini decidiu opor-se à abertura de uma cadeia de fast food no centro histórico de Roma e dessa indignação  resultou o manifesto Slow Food. Foi apenas uma questão de tempo até o conceito se expandir a outras áreas — slow travel, slow school e até slow cities — com o slow movement a servir de chapéu para a diversidade de esferas da vida social que se renderam a um ritmo mais consciente de viver, uma forma de desacelerar o ritmo frenético da vida moderna e valorizar a qualidade sobre a quantidade, em todas as esferas da vida.

Desde então o movimento SLOW também se colou a uma forma de estar nos negócios, no marketing e até no design.

Slow Business, é um movimento focado em quem tem um negócio tendo como foco um maior equilíbrio entre o negócio e a vida pessoal. Os negócios que adotam o Slow Business têm uma abordagem mais consciente e sustentável, pois não se focam no crescimento rápido e no lucro a curto prazo. Por outro lado, focam-se no longo prazo, na ética e responsabilidade social. Slow Business não é lentidão, mas decisão.

Já o Slow Marketing foca-se em vender no momento em que as pessoas realmente possam beneficiar do produto ou serviço, confiando no seu poder de decisão e discernimento. O objetivo do Slow Marketing é transformar o marketing num filtro, levando as pessoas certas para a porta do negócio, deixando-as prontas para comprar, de forma consciente.

E como se encaixa o Design nesta perspetiva SLOW?

O Slow Design foca-se na origem, no processo e nos materiais, promovendo e valorizando o bem-estar individual, da sociedade e do meio ambiente. Tem por isso uma abordagem holística e a sustentabilidade é um dos seus pilares, tendo como principal objetivo promover a consciência em relação ao consumismo desenfreado. Os objetos servem como porta-voz para mostrar que os valores tradicionais, o trabalho artesanal e a preocupação com a natureza são pontos importantes e que não devem ser esquecidos. A ideia principal é: comprar apenas aquilo que realmente nos serve, desde que seja bem-feito, durável e sustentável, privilegiando a qualidade em vez da quantidade.

Todos entendemos a decoração como esse conjunto de coisas que contribuem para embelezar um espaço e, numa perspetiva tradicional, foca-se de forma unidimensional na estética. Mas, e se o espaço não necessitar de muito mais do que simplicidade e emoção? E se o bem-estar e a sustentabilidade ambiental forem tão importantes como a própria estética? Não falo de minimalismo, mas sim de uma estética enriquecida por uma componente mais humana, artesanal, wabi-sabi, em que a imperfeição tem um lugar muito próprio, dá-lhe alma.

No Slow design, o termo SLOW é também um acrónimo que evidência as características em que se foca o próprio movimento: S – sustainable   L – local   O – organic   W – whole

No Anantique Studio adotamos intuitivamente o movimento Slow, porque acreditamos em design de interiores com identidade e autenticidade. Adoramos vasculhar feiras de velharias, em busca de peças com história, únicas e com caráter. Gostamos de peças artesanais, que preservam saberes antigos, sujeitos a desaparecer, se não forem recuperados e valorizados. Encantam-nos texturas simples, orgânicas, materiais que envelheçam bem e em que a imperfeição é bem-vinda. Acreditamos no poder da mistura improvável de peças, uma simbiose entre o novo, o velho e até o étnico, para ambientes mais intemporais. Os elementos são escolhidos, não só pela estética, mas também porque têm algo a dizer, relembram bons momentos ou, de alguma forma, se alinham com valores sociais ou ambientais. Escolhas cuidadas e com sentido, conscientes, portanto.

Por tudo isto, vemos as diversas vertentes Slow, não como sinónimo de algo lento mas sim como decisões conscientes e ponderadas.

Gostou do conteúdo? Partilhe!