Sobre mudar de vida

February 28, 2024

Em Junho do ano passado, no mês em que completei 47 anos, mudei de vida. Larguei 20 anos de trabalho em marketing farmacêutico e segui outro rumo, diferente, totalmente diferente.

Já contei por aqui que a minha formação de base é ciências farmacêuticas e o marketing também me conquistou, por isso fui farmacêutica marketeer por mais de 20 anos. Fui muito feliz durante muitos anos, gostava do que fazia, viajava e sentia-me bastante privilegiada por ter uma situação financeira tão boa e estável.

 

Mas todos estes sentimentos não são imutáveis e, principalmente depois de ter tido os meus filhos, comecei a valorizar outras coisas, como a gestão do meu tempo, mas também comecei a perceber que havia várias outras coisas de que gostava e talvez fosse tempo de as conquistar ou recuperar. Nunca são decisões fáceis e é inegável o peso que a estabilidade financeira tem numa ponderação destas.

Mas 2023 foi o ano do grande passo, do perceber que na minha cabeça a mudança já tinha acontecido e que por isso teria de seguir com a decisão. Largar o que tinha conhecido como realidade e abraçar uma nova, uma realidade em que presto contas a mim própria, em que crio as minhas próprias rotinas e horários.

Trabalhar por conta de outrem, numa indústria tão exigente, trouxe-me uma enorme aprendizagem de metodologia e responsabilidade e é muito bom transpô-la para o meu dia a dia, agora que trabalho maioritariamente a solo.

Assim, estou desde junho totalmente dedicada ao design de interiores. Desde a adolescência que gosto muito de decoração e o meu quarto era o meu “pequeno laboratório” mas estudar artes não foi, na altura, opção.

Estudar design de interiores veio muito mais tarde, já depois dos 40 anos, essa idade em que nos tornamos naquilo que somos, como disse o poeta Charles Péguy. A irreverência dos 20 anos dá lugar à sabedoria e à razão dos 40. É uma fase de reflexão, autoconhecimento e aceitação, abraçamos a nossa essência e trajetória, reconhecendo que cada experiência moldou quem somos hoje.

Paralelamente, senti vontade de retomar algo que um dia achei iria fazer da minha vida profissional, o que não chegou a acontecer, a aromaterapia. Por isso, estou também a estudar para a certificação em aromaterapia clínica integrativa.

E passados 8 meses como me sinto? Feliz.

Feliz por ter ouvido a minha voz interior e ter-lhe dado oportunidade.

Feliz por conseguir gerir os meus horários em função da harmonia familiar.

Feliz por estar dedicada a algo que põe a minha criatividade ao serviço de outros.

Feliz por poder associar, sempre que possível, a estética à sustentabilidade, quer por reaproveitar peças existentes, quer por poder recorrer a trabalho artesanal.

Feliz por, até agora, não ter passado por momentos de arrependimento, ao olhar para trás.

Feliz por ter tempo para o meu próprio desenvolvimento pessoal.

Feliz por preencher os meus dias com coisas de que tanto gosto, sem ter de aguardar pelos tempos livres para o fazer.

 

Tudo são rosas? Claro que não!

Todas as profissões têm os seus dissabores e vicissitudes.

A estabilidade financeira que já tive é algo que dificilmente se coaduna com a vida de empreendedor, muito mais sujeita a flutuações.

Nunca fui “gastadora” mas tenho agora muito mais consciência e ponderação nos meus gastos.

Algo que sempre adorei fazer, viajar, fica mais condicionado. Mas até nisso podemos ser criativos e por isso, inscrevemo-nos numa plataforma para troca de casa entre designers, a que temos recorrido nas férias.

De resto, é olhar para o lado menos bom em consciência e procurar transforma-lo em oportunidades.

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