As mantas de Minde (ou Ninhou)

November 15, 2016
Há algum tempo que tenho vindo a ler um pouco sobre tecelagem e mantas tradicionais portuguesas. Daquelas em pura lã, feitas em teares de madeira, num processo totalmente artesanal. Tem sido todo um mundo novo por descobrir.
A parte boa é que é património bem português, a parte má é que, infelizmente, o seu uso se foi perdendo no tempo e o artesanal deu lugar à massificação.
O número de teares e de tecelões reduziu drasticamente desde meados do XX, sobrando hoje pouquíssimos exemplares.
A nível nacional há talvez 4 locais onde esta arte secular ainda persiste: Guarda, Mértola, Monsaraz e Minde. Hoje dedico-me às mantas de Minde.
 
A história das Mantas de Minde tem quase 400 anos e confunde-se com a história da terra que lhes dá nome e a evolução económica das suas gentes. Esta lã é 100% de ovelha e a produção totalmente artesanal, por isso, o resultado é único e dotado de uma especificidade genuína. Minde (ou Ninhou na linguagem Minderico) é uma freguesia do concelho de Alcanena. A vila de Minde possui um dialecto próprio, designado de Minderico, reconhecido internacionalmente como língua autónoma e viva. Foi desenvolvida no sec. XVIII pelos feirantes mindericos que, em tempos viajavam por todo o país, para venderem as suas mantas, com o propósito principal de se entenderem de forma privada, impedindo outros indivíduos de perceber o que estes falavam e combinavam.


Actualmente, há apenas 3 teares em Minde, no Atelier deTecelagem do Centro de Artes e Ofícios Roque Gameiro (C.A.O.R.G.). Este atelier partiu do princípio da autenticidade para recriar uma arte que se foi perdendo com a industrialização. Os teares são, por isso, de madeira e todo o produto o mais puro possível. Os tecelões são 2, o Roberto que aprendeu o ofício com o sogro, que já tecia com o pai e, muito recentemente a Mafalda, costureira que começou a aprender esta arte há apenas uns meses, mas que tem dado uma boa lufada de ar fresco.
Rapidamente decidi que queria mesmo uma manta de Minde, por isso fiz-me ao caminho e passei um bom final de tarde no C.A.O.R.G, onde fui muito bem atendida pela simpática Mafalda. Aqui, fiquei a conhecer os 4 tipos de mantas, que diferem nos seus padrões: Pretas, Pardas, Sombreadas e Janota.
Escolhi tudo o que queria, padrão, cores e dimensão, um processo engraçado. Demorou algum tempo, mas por fim telefonaram-me para ir buscar a MINHA manta Janota, que combina um entrançado de cores variadas, sobre uma base de tom pardo, natural. Feita para mim. Adoro.

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