Passou mais de um ano desde a última vez que escrevi neste meu cantinho. E, de lá para cá, tanta coisa aconteceu, mas que só me trouxeram para um lugar melhor, mais completo, mais feliz.
Pouco tempo depois da última publicação descobri que estava grávida. Descobri, sim, porque a verdade é que não achava de todo que fosse acontecer. Depois do primeiro bac, a feliz realidade, a Clara ia ter um irmão.
Como a mudança de casa estava para breve, tudo foi feito em plena gravidez. Um ano de pandemia em cheio, a planear a chegada do segundo filho e a pensar deliciosamente cada detalhe da nova casa.
E assim aqui estou eu hoje, mãe da Clara de 3 anos e meio e do Guilherme de 7 meses, a aproveitar a sesta dos pequenos para escrever. E escrevo, de coração cheio, do lugar que andava a idealizar por altura do último post, um cantinho de trabalho na sala de estar, que mais não é que um banco de carpinteiro bem tosco, com vista para o jardim.
Hoje apeteceu-me escrever um bocadinho sobre mim, sobre hobbies e interesses unir as pontas, aparentemente, soltas mas que não o são tanto assim, ou pelo menos há um fio consistente que as une.
Estudei ciências farmacêuticas, por convicção e gosto, mas sem uma clara ideia do que iria realmente fazer e por isso a polivalência do curso dava-me muita liberdade. Desde logo senti que o trabalho numa farmácia não me encaixava. Apesar da sólida formação em medicamentos sempre tive um crush por terapêuticas complementares (alternativas, por vezes). Recordo bem ter tratado uma micose no pé, vulgar pé de atleta, com óleo essencial de Tea tree, em vez das comuns pomadas antifúngicas. A verdade é que consegui duas coisas, tratar o fungo e andar com pés e sapatos cheirosos 😊. Li muito sobre fitoterapia e trabalhei com homeopatia que, apesar de ser um tema controverso, a verdade é que reconheço resultados, se bem utilizada. Algures aqui pelo meio percebi que o meu lado “pé no chão”, farmacêutico, não podia viver sozinho. Precisava de o aliar a algo, potencialmente, mais criativo e assim surgiu o marketing na minha vida. Continuo a trabalhar como farmacêutica marketeer até hoje :).
Entretanto, a prática de yoga e meditação começou a acompanhar-me e isso levou-me a descobrir a ayurveda, a medicina tradicional indiana. Tal como a homeopatia, a ayurveda tem uma abordagem holística, superando a ideia do ser humano como um todo, pois inclui também o seu meio envolvente. Alguns anos mais tarde, a busca de mais conhecimento em ayurveda levou-me ao seu berço, a Índia, numa viagem tão enriquecedora.
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Sala de aula, em Trivandrum, Índia, com colegas de todo o mundo |
Esta foi também a primeira viagem em que levei uma nova amiga, a minha Nikon reflex. A verdade é que sentia falta de registar tantos bons momentos de uma outra paixão, viajar. Adoro correr mundo, embrenhar-me em novas culturas, aprender ou só descansar, perceber que há tantas outras formas de vida e que a minha é só mais uma e não a única. Conhecer pessoas, mercados, picos e vales. Viajar é uma festa de onde só regressamos mais ricos.
E como se encaixa o design de interiores?
Sou nativa de caranguejo e talvez por isso, pessoa de afetos, raízes e cultivo uma certa nostalgia boa. O meu espaço é o meu refúgio e isso transparece, acho que desde sempre. Sou incapaz de não tornar um espaço, onde passo bastante tempo, mais acolhedor, mais “meu”, onde há sempre objetos que me remetem para momentos bem passados. Acredito que peças antigas contam muitas histórias, que gosto de explorar e trazem genuinidade ao ambiente, tornam-no mais rico e autêntico. Por isso, adoro vasculhar feiras de velharias ou a casa da avó, em busca de peças carregadas de história e da possibilidade de as recuperar, recriar ou simplesmente deixá-las evidenciar que o tempo passou por lá. Daqui surgiu a vontade de saber como trabalhar estas peças, de ter conhecimentos de restauro e fui aprender. Se as peças antigas contam histórias, as peças artesanais não ficam atrás, têm alma, têm o artesão e, muitas vezes, técnicas seculares por trás delas. Daqui ressalta uma preocupação crescente com aquilo que me rodeia, numa lógica de sustentabilidade e de preservação do ambiente. Reutilizar, dar nova vida a peças antigas, valorizar o trabalho artesanal, e materiais mais amigos do ambiente, optar por mais e melhor do que por peças descartáveis, vinculadas ao sabor da moda.
Se há um fio condutor em tudo isto, ele leva-me até ao design de interiores, que foi estando sempre presente, ainda que, sem qualquer rótulo. Traduzia-se apenas na vontade de interligar toda esta minha vivência e deixá-la ver a luz do dia através dos meus espaços físicos. A vontade de aprofundar conhecimentos em design de interiores, para além do empírico, levou-me a procurar formação, o que fui mostrando em publicações anteriores.
Ainda que em âmbitos distintos, creio que abordagem holística que descobri com a ayurveda e a homeopatia se reflete bem na forma como encaro o design de interiores, como um todo. Esse todo revela a nossa história e a nossa ligação ao meio envolvente, em que cuidamos de nós e nos preocupamos também com os outros. Interiores mais conscientes, que devem ser o nosso reflexo e que nos fazem sentir bem.
O maior desafio em design de interiores tem sido, para já, esta mudança de casa. Todo um livro de páginas em branco, que fui escrevendo ao longo deste último ano e partilhando no Instagram do
Anantique, mas que, conhecendo-me, nunca vai estar concluído :).