Fábrica Alentejana de Lanifícios

April 18, 2020

“Que será desta arte quando esta senhora, já para lá dos 70 anos e percurso de vida curioso, deixar as suas rédeas?” Terminava desta forma o texto que escrevi em 2017 sobre as mantas Alentejanas. A resposta chegou-me por estes dias e é precisamente com estas mantas, de marca centenária, que início o périplo a que me propus sobre o artesanal, no design de interiores.

A Fábrica Alentejana de Lanifícios, em Reguengos de Monsaraz, produz as tradicionais mantas usadas, noutros tempos, pelos pastores ou nas camas, para proteção do frio. A verdade é que de fábrica só tem o nome, já que a produção é manual, em teares com mais de um século e com lã portuguesa, onde apenas 4 artesãs se empenham em não deixar morrer uma arte quase extinta.

 

No anos 80, com a entrada na UE e o início da globalização, o negócio teve de se reinventar. As mantas deixaram de ser usadas, essencialmente como agasalho e passaram a servir outros propósitos, como tapetes, poufs, almofadas, colchas ou tapeçarias decorativas.
Mais recentemente, o turismo veio dar um novo fôlego ao negócio e espaços como L’and and Vineyards, o Esporão ou São Lourenço do Barrocal, não deixam de dar o seu contributo a esta tradição, para além de usarem várias destas mantas nos seus interiores, também são verdadeiras montras, para o turista português ou estrangeiro.
Crédito imagem: L’and and Vineyards
Crédito imagem: São Lourenço do Barrocal
Num destes dias, de longa quarentena, recebi um contacto, via Instagram, da fabricaal, tinham acabado de ler o meu texto aqui no Anantique. O meu primeiro pensamento foi “Ui! a Mizette cedeu às redes sociais e até já tem Instagram!” Não. A história é outra.
Ao fim de 45 anos, Mizette Nielson, a holandesa que se apaixonou por esta arte, deixou as rédeas da Fábrica Alentejana de Lanifícios. Mas este saber artesanal está longe de ter sido abandonado, apenas mudou de mãos, em Janeiro deste ano.
Margarida Adónis mudou-se em 2019, com a família, de Lisboa para o Alentejo. Procuravam uma vida mais tranquila e próxima da natureza. Numa das suas conversas com Mizette, soube da sua intenção de se reformar e vender a fábrica mas queria estar certa de que os novos proprietários iriam manter este património. Margarida e o marido encontraram aqui uma verdadeira janela de oportunidade, que encaixava na “nova” vida que tinham iniciado.
Convidaram dois amigos, com diferentes backgrounds e os 4 concordaram em comprar a fábrica e residir nas proximidades, mas conciliando com as suas atividades profissionais. Margarida Adónis é produtora de filmes, Renato Correia é líder em viagens de aventura, António Carreteiro é make up artist, com formação em fashion design e Luis Peixe é engenheiro e gestor, na área tecnológica.
Interessante é pensar o que cada um, com o seu know how tão diverso poderá trazer ao negócio e acima de tudo à perpetuação desta arte. Na verdade, não compraram apenas uma fábrica de mantas, compram um museu e todo um património que deve ser preservado.

 

Crédito imagem: Fábrica Alentejana de Lanifícios
Um fim de semana em Monsaraz vale mais do que a pena, e isso inclui passagem obrigatória na loja, que fica no interior das Muralhas. A maior dificuldade é mesmo escolher porque as opções de cores e padrões são imensas. Em alternativa, e dadas as condicionantes atuais desta pandemia, também podem encontrar as mantas no global marketplace Etsy.
À Fábrica Alentejana de Lanifícios, desejo o maior sucesso e um dia destes apareço para uma visita 🙂
Crédito imagem de capa: Fábrica Alentejana de Lanifícios

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