Da loucura dos 20 à tranquilidade dos 40

March 26, 2020
E, de repente, passaram 21 anos. Estávamos em 1999 quando pela primeira vez pisei por terras de Vera Cruz. Vários foram os regressos, várias as companhias, mas essas férias da Páscoa, ainda em tempos de estudante, recordo sempre com um enorme sorriso. Memórias que se colam e que fazem bater a saudade de tempos irrepetíveis. 
Eramos 4 amigas e o nosso destino a Praia da Pipa, em Pernambuco. No voo que nos levava para Recife, ia também a então famosa, Banda Eva, banda bahiana de música axé. Conversa vai, conversa vem, acabamos esse voo com a promessa de que caso estivéssemos em Salvador da Bahia, na semana seguinte, teríamos convite para o concerto da banda no Parque do Abaeté.
Passamos um maravilhosa semana em Pipa, muita praia, muita caipirinha, muito som. Ainda hoje o som de Marisa Monte e de Geraldo Azevedo me remete para esses tempos. Mas o nosso pensamento já estava em arranjar maneira de fazer os 1000km que separavam Pipa de Salvador da Bahia. Assim foi, na véspera do concerto voamos de Natal para Salvador.

Não sei mesmo porque não ficamos sossegadas por Salvador no dia seguinte, mas sei que decidimos fazer os 60km até à Praia do Forte, uma viagem louca num Pão de Forma, onde cabe sempre mais um, e até hoje recordo que foi mais o tempo em contra-mão do que na faixa de rodagem. As coisas que a nossa memória retém 🙂
A Praia do Forte era, na altura, um vilarejo muito simples, com boa praia e a sede do Projeto Tamar, para proteção das tartarugas. Aqui, usamos uma cabine telefónica, coisa que hoje nem sabemos mais o que é, para contactar os nossos novos amigos. “Estamos cá, como é? Temos bilhetes vip para o concerto?” Tivemos sim, e foi só incrível e irrepetível.

Pois então, acabo de chegar, de umas maravilhosas férias (que nunca vou esquecer de tão boas e por precederam este isolamento que já dura 10 dias) precisamente na Praia do Forte e Salvador da Bahia. Tão bom percorrer estes caminhos, já com uma história, com o Tiago e a Clara. Tão boa esta tranquilidade familiar, em que há tempo para saborear, sem querer abocanhar o mundo todo de uma só vez. Tão diferente a Praia do Forte. Continua um vilarejo, a igrejinha é a mesma, mas a sofisticação já la chegou. Com ou sem sofisticação, continua magnífico para uns dias de merecido descanso e boa praia.
E depois há Salvador, a cidade mais brasileira do Brasil, tão genuína, tão cheia de história, de boa comida e gente amável. Arranjamos um guia e palmilhamos o centro histórico de fio a pavio. Fomos à Ribeira, ao Senhor do Bonfim, ao farol da Barra, ao forte de Monte Serrat, à feira de São Joaquim e até convenci o Tiago a irmos a uma festa em terreiro de candomblé, uma curiosidade antiga. Que os Orixás nos protejam!
Tudo isto com a nossa pequena Clara, uma verdadeira companheira de viagem.

Como cantava Dorival Caymmi,
 “Você já foi à Bahia, nêga?
Não?
Então vá“
Você já foi à Bahia, nêga?
Não?
Então vá!
Quem vai ao “Bonfim”, minha nêga,
Nunca mais quer voltar.
Muita sorte teve,
Muita sorte tem,
Muita sorte terá
Você já foi à Bahia, nêga?
Não?
Então vá!
Lá tem vatapá
Então vá!
Lá tem caruru,
Então vá!
Lá tem munguzá,
Então vá!
Se “quiser sambar”
Então vá!

Nas sacadas dos sobrados
Da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas,
Do tempo do Imperador.
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito,
Que nenhuma terra tem!

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