A imperfeição do Wabi-Sabi

October 9, 2017

Tropecei no Wabi-Sabi, uma vez, tropecei segunda. A palavra despertou a minha curiosidade e fui ler sobre o assunto. Gostei muito do que encontrei, dá resposta a muito do que sinto em relação à estética e decoração de espaços (só me falta trabalhar o minimalismo 🙂 ). Desenganem-se os amantes de sushi, não tem nada a ver com wasabi!


Nos últimos tempos nota-se um modo de beleza mais natural e realista, que se aplica também à decoração. Retomou-se a valorização do artesanal e o uso de materiais tal como os encontramos na natureza. A ideia de valorizar a beleza nas coisas imperfeitas é relativamente nova para os ocidentais, mas trata-se de uma filosofia profundamente ligada à cultura japonesa, desde o século XV e encontra a sua base nos ideais do zen-budismo.

Wabi-sabi significa aceitar a imperfeição, a assimetria, a irregularidade, a modéstia e a humildade como atributos de beleza e estética. Trata-se de conseguir ver a beleza em tudo, até no que parece insignificante, como marcas do tempo, falhas e rachaduras e passa longe de distrações e ruídos visuais.

Seguindo esse pensamento, o espaço precisa de ambientes minimalistas, simples, orgânicos e modestos. Deve ter peças escolhidas pela sua utilidade, beleza ou sentimento, mobiliário com elementos reciclados/reaproveitados, antiguidades, objetos feitos à mão ou usados. De preferência, acompanhados por elementos da natureza, como plantas, flores e galhos.

O conceito está intimamente ligado ao slow living, que busca desacelerar e focar na origem, no processo e nos materiais, promovendo e valorizando o bem-estar individual.

Decoração wabi-sabi em 13 passos:

1 – Ambientes minimalistas, simples, orgânicos e modestos.
2 – Requerem-se espaços pouco cheios onde os artigos dominantes são os essenciais. Essa escolha é feita baseada na sua utilidade, beleza ou sentimentalismo (ou os três).
3 – A palete de cores da decoração wabi-sabi está assente nos tons terra.
4 – Privilegia-se o uso de materiais naturais (madeira envelhecida, pedra esfarelada, barro, lã, algodão cru, linho, papel de arroz…) em vez de materiais artificiais e/ou luxuosos (plástico laminado, mármore polida, placa de vidro, porcelana, poliéster, licra…).
5 – Aprecia-se as artes decorativas, mobília e elementos reciclados/reaproveitados, objetos feitos à mão e encontrados em feiras de usados, antiguidades e outras do género.
6 – A Mãe Natureza deve ser uma companhia constante e deve ser trazida do exterior para o interior sempre que possível: plantas e flores, de preferência do campo, e até ramos de árvore são bem-vindos. Neste contexto, a única “exigência” é que a flora utilizada seja da estação do ano em vigor.
7 – Proteger a casa contra o ruído, o que significa um bom isolamento de portas e janelas, cortinados mais pesados, chão de cortiça.
8 – Organizar a casa de cima a baixo, deitando fora, reciclando ou doando o que está a mais; encontrar um lugar específico para cada coisa para manter a organização.
9 – Privilegiar a luz natural e a de velas em detrimento da iluminação artificial.
10 – Gosto especial por formas irregulares e que não têm necessariamente de combinar entre si (em termos de mobiliário também).
11 – Expor peças com alma, elevado simbolismo ou sentimentalismo: fotografias a preto e branco do casamento dos avós, lençóis e toalhas bordados pela sua mãe, uma escultura amadora, um conjunto de pedras apanhadas à beira-mar ou um desenho colorido feito pelos filhos.
12 – Criar um espaço pessoal que serve de refúgio e/ou de meditação.
13 – Apreciar a imperfeição – a presença de arranhadelas e fissuras na mobília, portas ou objetos é considerado um símbolo da passagem do tempo. No ambiente certo, as peças gastas por anos de uso ganham uma magia inigualável e reconfortante, são companheiros de uma casa, testemunhos de uma vida.

 
“There’s a crack in everything. That’s how the light gets in” de Leonard Cohen (1934 – 2016), parece ter sido escrito a pensar no wabi-sabi:  Nem sempre as marcas do tempo têm de ser ignoradas ou apagadas,  pelo contrário,  é importante reconhecer a história e enaltecê-la.
Créditos de imagem
Texto inspirado em Eu Decoro

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