Em meados de Novembro fiz uma publicação sobre mantas tradicionais portuguesas, e na altura referi que a nível nacional há talvez 4 locais onde a produção artesal desta arte secular ainda persiste: Guarda, Mértola, Monsaraz e Minde. Nessa publicação dediquei-me às mantas de Minde, hoje dedico-me às mantas Alentejanas, mais precisamente de Monsaraz.
No final do ano passado passamos um óptimo fim-de-semana em Monsaraz e um dos meus propósitos, para além dos lugares de sonho, do descanso e de empanturrar-me com a maravilhosa comida alentejana, era conhecer um pouco mais sobre as mantas Alentejanas, que eu tanto gosto.
A loja destas mantas, em Monsaraz, já conhecia, mas queria mesmo era visitar a fábrica. Na voltinha de fim-de-tarde por Monsaraz voltei à loja e, por sorte, estava por lá a Mizette, a holandesa que em meados dos anos 70 decidiu comprar a Fábrica Alentejana de Lanifícios. Pedi-lhe para a visitar a fábrica e, no dia seguinte, lá fomos direitinhos a Reguengos de Monsaraz.
Abriu-nos a porta a simpática D. Fátima, na casa dos 50 anos e mais antiga funcionária. Foi uma verdadeira cicerone pelos recantos da fábrica. Aqui trabalha-se essencialmente por encomenda e nos intervalos fazem-se algumas peças para a loja de Monsaraz.
Na fábrica, que ocupa o espaço de um antigo lagar de azeite, trabalham apenas três mulheres, que, a par da proprietária, têm a missão de não deixar morrer uma arte quase extinta.
Ainda utiliza teares manuais com mais de um século. Durante muitos anos, as mantas ali produzidas foram usadas pelos pastores para se protegerem do frio quando guardavam os rebanhos no campo. Por isso, as cores e os padrões originais estão relacionados com motivos do Alentejo, como os campos floridos e os seus tons laranja, amarelo, vermelho e castanho.
Atualmente, as mantas são usadas como tapetes, almofadas, colchas, puffs e tapeçarias decorativas. As tecedeiras combinam a fidelidade aos padrões existentes – mais de 600 desenhos – com as tendências da moda e os gostos do cliente. Sempre em lã, sem qualquer mistura de fibras sintéticas.
É de perder a cabeça tantos os padrões, dimensões e diversidade de cores. Mas eu já tinha ficado de olho numa manta que estava na loja, foi amor à primeira vista. Foi a que acabei por trazer para casa.
Mizette nasceu na Holanda e antes de vir para Portugal, em 1962, viveu em França, Inglaterra e Espanha. Foi directora de agências ligadas à moda, publicidade e cinema. Fez parte da produção do filme 007 “Ao Serviço de Sua Majestade”, o único da série rodado em Portugal, e organizou o primeiro concurso Miss Portugal. Que será desta arte quando esta senhora já para lá dos 70 anos e percurso de vida curioso, deixar as suas rédeas?