Se associo uma árvore à minha infância é, sem dúvida, a este castanheiro. Era bem frondoso e ficava no fundo do quintal da casa dos avós. Sempre adorei castanhas e recordo bem as tardes de outono, passadas com a minha irmã, na sua sombra, debruçada a abrir ouriços e a apanhá-las.
O curioso é que só soube da origem deste castanheiro há uns meses atrás. Foi plantado pelo pai no dia em que entrou para a faculdade, no final dos anos 60, como forma de assinalar a data 🙂
Há uns anos atrás a casa dos avós foi vendida e os actuais proprietários, vá-se lá saber porquê, resolveram deitá-lo abaixo. E ali ficou o tronco, felizmente numa zona a que temos acesso.
Daqui até à ideia de cortar uma argola do tronco e fazer uma mesa para oferecer ao pai no Natal foi fácil. O difícil foi arranjar quem a cortasse, o que lá consegui, digamos, por portas mais travessas 🙂
Depois de cortada a argola, em bruto, levei-a a uma serração para fazer o corte perfeito e retirar a casca, o que, no caso do Castanho, não é tarefa fácil. A partir daqui já pude meter a mão na massa.
Com as preciosas indicações da Margarida, do Artlier, e depois de finamente lixada, comecei por passar branqueador de madeiras nas zonas em que a argola tinha manchas escuras, provocadas pela máquina de corte. Seguiu-se tapa-poros, para evitar que a madeira cedesse, uma vez que ainda não estava totalmente seca. Foram umas 3 camadas deste produto intercaladas com lixa fina. Por fim, várias camadas de goma laca até ao aspecto desejado.
Para suporte, sabia bem o que queria, pernas em alfinete. Também aqui o difícil é encontrar uma serralharia artística, e mais ainda uma serralharia que faça o desenho que queremos… Fruto do acaso, da sorte (ou até mesmo serendipity 🙂 ) entrei um dia no elevador da empresa onde trabalho e está lá dentro um homem cuja camisola diz “Serralharia”. Confirmei que efectivamente trabalha numa e não saí desta curta viagem sem a certeza de que me iria orçamentar as pernas.
O resto foi fácil, colocar as pernas e encerar com cor de nogueira.
Conclusão, ofereci, de surpresa, ao pai, no Natal, a peça mais bonita que fiz até hoje. Perpetua-se o castanheiro na família. A próxima mesa será minha, mas tudo será mais fácil, seguramente!
A mesa do castanheiro não entrou no meu Best of 2016 porque ainda era segredo, por aqui… mas é A peça do ano.